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Brasília
Duas lideranças no estado do Pará que lutavam contra a devastação da floresta amazônica foram mortas em emboscada, tendo um deles tido a orelha arrancada. O comentário geral é que foram mortos por denunciar o desmatamento na mata. A Câmara dos Deputados aprovou o Código Florestal que protege os que desmatam a Amazônia e, no mesmo momento, vaiou os dois mortos de Nova Ipixuna-PA. É muito triste e causa vergonha morar num país que convive com esses fatos e não é tomado por uma legítima indignação. Afinal, que país é este? Um mundo sem lei e sem respeito ao homem e ao meio ambiente? Voltamos à idade da pedra lascada? Até quando seremos coniventes com este estado de coisa? E ainda teremos que aceitar um Belo Monte transformar-se numa desgraça ambiental. É o fim do pouco que restava de respeito ao homem e ao planeta aqui nesta região paraense.
João Melo
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Os excelentes técnicos do Banco Central, sob o comando do presidente Alexandre Tombini necessitam demonstrar com eficácia a membros do próprio governo os riscos da inflação ultrapassar a meta estipulada de 4,5% ao ano. A sociedade brasileira possui mecanismos de adaptar-se a uma espiral inflacionária, uma vez ter convivido com essa excrescência por longo tempo. Diante disso, um aumento aqui, outro ali, automaticamente gera-se uma acomodação da população e daí em diante para chegar a uma prejudicial hiperinflação é somente uma questão de tempo.
O assunto inflação deve ser tratado com rigor e com o total apoio da presidente Dilma. Desde a sua posse, por diversas vezes a presidente manifestou a sua posição de combater a inflação a qualquer custo. No entanto, efetivamente na prática não se observa uma postura inflexível perante o perigo do retorno da inflação. Quem foi atingido pelos Planos Cruzado, Cruzeiro, Collor dentre tantos outros, conhece a dificuldade que era conviver com taxas de hiperinflação e teme com a possibilidade do retorno do dragão inflacionário. A complexidade de manter sob controle a economia brasileira diante de inúmeros e graves problemas não é tarefa simples. Porém, não é com o afrouxamento no combate a uma taxa de inflação superior a meta que o país torna-se seguro. Pelo contrário, a demonstração de fraqueza nesta área aumenta o risco de uma instabilidade econômica que trará seus reflexos sobre toda a sociedade, até na esfera política. Mesmo diante da crise de 2008 que ainda continua com seus reflexos em diversos países, não é, por exemplo, porque contabilizamos mais de US$ 300 milhões em reserva e a taxa de desemprego encontra-se em 6% - quase atingindo o nível de pleno emprego, que a área econômica do governo pode sentir-se confortável e segura que nada poderá prejudicar o Brasil. É desconcertante que vejamos o governo interferir na saída do competente Roger Agnelli da Vale, continuar sem observar com austeridade a Lei de Responsabilidade Fiscal, buscar controlar a cotação do dólar e até mesmo não admitir como positivo o aumento na taxa básica de juros aprovada pelo Copom. Indicadores do mercado e do próprio governo projetam um aumento do PIB no primeiro trimestre deste ano entre 0,9% a 1,5%. O perigo é que a desaceleração que deveria frear a inflação não aconteceu, o que faz também com que seja estimada em quase 7% a taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses. Isso demonstra que as medidas macroprudenciais do governo não estão em sintonia com a economia de mercado, ou seja, com o mundo real. Supor que por termos reservas nunca antes acumuladas neste país é fator seguro contra riscos econômicos é primário. Que aconteceria se os investimentos diretos estrangeiros deixassem de ingressar no país – somente em abril US$ 5,5 bilhões -, e o governo por pressão política optasse por manter baixa a taxa básica de juros? Os sólidos fundamentos da economia brasileira não estão assim tão fortes para que ocorrências dessa natureza não causem prejuízo ao país. Recém eleita presidente, com uma base de apoio parlamentar elevada (mas que na hora de uma votação complexa transforma-se em geléia) e com amplo apoio popular, é o momento certo para o governo realizar reformas. Nesse caso, reformas que transformem este Brasil burocrático, ineficiente nos gastos, arrecadador voraz, indeciso economicamente, com um baixo nível educacional, sem investimentos em infraestrutura básica. O Brasil precisa ter um perfil que busque colocar o estado em funções básicas, que não possam ser preenchidas iniciativa privada, visando ser, de fato, uma potência econômica e não um mero ator coadjuvante ao acreditar poder sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas sem cair no ridículo. João Melo Há visíveis discordâncias entre os economistas sobre como superar os problemas deixados pela crise de 2007-09.
Ela desempregou, no plano da economia real, aproximadamente 30 milhões de cidadãos, desarticulou ainda mais a precária condição fiscal de um grande número de países, acentuou os imensos desequilíbrios (positivos e negativos) no balanço em conta-corrente de alguns deles e introduziu sérias dúvidas sobre a continuidade do uso do dólar como unidade de conta internacional. Essa confusão não é o fim, mas o começo de um novo conhecimento econômico. É evidente que o conhecimento só avança quando é contestado pela realidade: a ciência progride sobre suas falhas. O estado de dúvida ampla, geral e irrestrita deve levar à modéstia nas recomendações "normativas" frequentemente extraídas de modelos elegantes, mas de discutível vinculação com a realidade. Abre-se um vasto campo de conhecimento a ser retrabalhado e explorado. Não devemos desanimar ou nos enganar com essa visão quase niilista da economia. O conhecimento acumulado nos últimos 200 anos é rico de ensinamentos para a boa governança dos Estados. O fracasso do "mainstream" da macroeconomia não é o fracasso da economia, mas apenas o de uma de suas "escolas". E, mais importante, não é licença para amadorísticas aventuras experimentais. Paradoxalmente, nunca foi tão importante como agora conservar o que sobrou da boa e velha lição que fez o sucesso do Estado indutor constitucionalmente controlado: 1º) Realizar uma política fiscal com olhos no longo prazo, com moderados deficits nominais, boa qualidade no financiamento da dívida e controle da relação dívida pública/PIB; 2º) Economizar nos gastos do governo para abrir espaço ao seu investimento; 3º) Suprir com eficiência os bens públicos que o mercado não pode produzir; 4º) Realizar uma política monetária que garanta a estabilidade do valor da moeda e do sistema financeiro e que, com o conforto da política fiscal, leve a taxa de juros real interna a igualar-se à externa; 5º) Criar os incentivos corretos para estimular os agentes econômicos; 6º) Dar liberdade bem regulada aos mercados; 7º) Não tentar violar as identidades da contabilidade nacional. Mesmo com uma boa lição de casa, a política econômica exige arte para calibrar os instrumentos disponíveis (por exemplo, as políticas fiscal e monetária), para atingir os objetivos: uma inflação parecida com a do resto do mundo e o pleno uso dos capitais humano e físico. Por uma boa razão: as políticas fiscal e monetária não são independentes. A "arte" é juntar pragmatismo, pertinácia e paciência. João Melo Os últimos números divulgados no Brasil sobre a taxa de desemprego e sobre a taxa de inflação, 6,40% ao mês e 0,96% ao mês, respectivamente para o mês de fevereiro/2011, demonstram um aumento mensal na ordem de 4,92% para a taxa de desemprego e um aumento mensal de 26,32% na taxa de inflação, comparando-se a janeiro/2011. Essa relação que existe entre a inflação versus desemprego é conhecida na Economia como a Curva de Philips e busca-se nesta breve análise verificar se essa relação com o regime de metas de inflação existe na economia brasileira. Estudos realizados demonstraram, por exemplo, que entre 1948 a 1969, a diminuição contínua da taxa de desemprego americana durante a década de 1960 esteve associada a um aumento contínuo da taxa de inflação. Posteriormente, por volta da década de 1970, já inexistia a mesma relação na economia dos Estados Unidos, ou seja, não existia qualquer relação visível entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação nesse período. Estariam Alban Phillips, Robert Solow e Paul Samuelson errados quando formularam o assunto? Na realidade, Milton Friedman e Edmund Phelps argumentaram que esse dilema entre inflação e desemprego era uma ilusão. Eles realmente tinham mesmo razão? Numericamente, a original Curva de Philips já não representava a realidade do momento atual. É o que observamos hoje na economia brasileira. Realizando uma análise dos últimos 12 meses com base em fevereiro/2011, observa-se na tabela abaixo que para o Brasil a Curva de Philips atualmente não funciona, apesar do regime de metas de inflação tornar verdadeiro o trade-off desemprego e inflação. O país mantém uma taxa de desemprego decrescente e uma taxa de inflação estável, porém com um forte viés de alta. Fonte: Banco Central do Brasil Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, a presidente Dilma Rosseff afirmou categoricamente que no seu governo “Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano (2011).” Em que pese o discurso da presidente, diversos setores da economia brasileira desconfiam que o atual governo mantenha rigor no cumprimento da meta de inflação de 4,5% ao ano, com variação de 2% para mais ou para menos. Fontes do mercado estimam uma variação na taxa de inflação de 6,31% em 2011 e de 4,8% para 2012, portanto ainda dentro da meta definida, mas com risco de ultrapassar a margem. Conforme matéria de Claudia Safatle no Valor Econômico, “fazer a inflação deste ano convergir para a meta de 4,5% demandaria uma recessão, opção que a presidente Dilma Rousseff descarta completamente e que o próprio BC não recomendaria. Cabe ao regime de metas manter a inflação na meta com o menor custo possível para o nível de atividade. E em casos de choques de oferta, a literatura preconiza que seus efeitos primários devem ser acomodados e os secundários, combatidos.” Não é prática de nenhum governo afirmar em público que está dividido entre aumentar a inflação e reduzir o desemprego ou reduzir a inflação e aumentar o desemprego. Apesar de Maquiavel lembrar que “os fins justificam os meios”, a Curva de Philips ainda é utilizada como uma justificativa para manter sob controle a inflação em um regime de metas. O que ainda não se sabe é até quando a curva de Philips ainda pode representar a realidade econômica brasileira. João Melo Estimados colegas, bom dia e bom final de semana!
Quando você lê PAUL KRUGMAN no ESTADÃO analisando “o prazer da pesquisa”, você realmente reconhece que não existe almoço grátis. Tem que gostar muito do que faz e trabalhar bastante. A declaração de amor vinda de um intelectual de seu nível é assunto que merece ser realmente divulgado para todas as gerações da A à X,Y e Z... Uma reflexão de ordem pessoal: percebi, algumas horas atrás, que estava desfrutando realmente de um bom fim de semana e isso me fez parar e pensar sobre o que de fato me agrada nesse meu atual papel de intelectual público. Não é o semistatus de celebridade que ele proporciona; na verdade não me sinto muito à vontade quando sou reconhecido. E também não tem a ver com a capacidade de ter minha voz ouvida, é ótimo poder usar o mais valioso espaço jornalístico do mundo e agradeço a chance de, talvez, fazer uma diferença; mas a responsabilidade que acompanha esse privilégio é muito grande e às vezes me sinto carregando um pesado fardo. Não, o que eu realmente adoro fazer é pesquisa – procurar entender como funcionam os sistemas de saúde, o que vem ocorrendo com a política monetária, como acessar e interpretar dados sobre o mercado de trigo. Mas eu não estaria realizado essas pesquisas mesmo que nunca tivesse me afastado da carreira acadêmica? Sim, contudo… O problema de ser um acadêmico bem-sucedido é que é muito fácil cair na rotina, passar o tempo fazendo coisas de menor importância num trabalho que torna você um personagem importante; além do que, mesmo grandes economistas raramente fazem um trabalho revolucionário na minha idade. É por isso que muitos economistas de primeira classe buscam uma segunda carreira, de um tipo ou outro, seja na área de administração, relacionada com políticas públicas, etc. No meu caso, estou escrevendo para o público em geral. O importante desta coluna é que ela, de uma maneira ou outra, obriga-me a continuar aprendendo novos estratagemas, a explorar áreas pelas quais nunca me interessei muito antes. E me força ainda a encontrar um modo de falar sobre os assuntos numa linguagem mais direta. E eu amo isso. João Melo Neste período onde o Rei Momo é quem manda no Brasil, dia seguinte a nova elevação da taxa básica de juros de 11,25% para 11,75%, a sociedade toma conhecimento que a economia brasileira cresceu à taxa de 7,5% em 2010 em comparação com 2009. O Produto Interno Bruto - PIB atingiu R$ 3,675 trilhões e, finalmente, deixamos o 0,6% negativo de 2009 bastante atrás. O exuberante indicador é o maior desde 1986 e encerra com perfeição a era do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de uma excelente recuperação econômica, já esperada pelos analistas de mercado e governo, mas contém o fato desse crescimento incluir fortes investimentos do governo, bem como comparar-se sobre o pífio desempenho de 2009.
Como no Carnaval coexistem momentos de alegrias e tristezas, na economia não poderia ser diferente. Enquanto muitos estão felizes com o excepcional aumento no PIB, outros estão bastante preocupados com um eventual retorno da inflação. Para 2011 o mercado já prevê uma taxa de inflação de 5,8%. Considerando que em 2009 a inflação foi de 5,91%, a maior registrada no país desde 2004 e, em janeiro deste ano, o índice subiu 0,83%, a maior alta desde abril de 2005, existe uma luz amarela no final do túnel. Como qualquer economia que deseja manter-se, sem graves problemas estruturais, entre as maiores do mundo, o Brasil trabalha com o regime de metas de inflação, sendo o Banco Central responsável por manter a taxa de inflação em 4,5% ao ano, com margem de 2% para mais ou menos. Com o consumo mantendo-se nas atuais condições, o país corre um sério risco de retornar ao universo inflacionário, com perdas para todos os extratos da sociedade, principalmente os de baixa renda. Fato é que com o ingresso de milhões de novos consumidores ao mercado, ávidos por produtos básicos que vão da linha branca até a industria automotiva e que faz a festa das empresas produtoras, o consumo aumentou substancialmente, resultando num preocupante aumento da taxa de inflação, já em níveis superiores ao centro da meta. Diante disso, o governo age através do Banco Central com a elevação da taxa de juros visando frear essa demanda que estava reprimida, bem como comunica ao mercado sua intenção de cortar cerca de R$ 50 bilhões nos seus gastos públicos. Muitos analistas entendem que essa seja a meta mais difícil de cumprir devido os componentes políticos envolvidos, o que no Brasil sempre é, na maioria das vezes, em benefício de setores mais organizados. Mesmo que os efeitos da elevação da taxa de juros não sejam de curtíssimo prazo, essa sinalização já provoca uma redução no consumo, apesar do Brasil atualmente apresentar um nível de desemprego um pouco superior a 6%, um dos mais baixos da história. Neste momento é importante que a economia ajuste-se aos padrões de macro estabilidade, uma vez que temos uma excessiva carga tributária, uma preocupante dependência das nossas exportações para a China, uma logística que não favorece a produção, uma legislação anacrônica e uma presença estatal em setores privados que há anos deveriam ter sido privatizados. Para o economista Antonio Correa de Lacerda “Se você combina corte de gastos com aumento de juros, com restrição da demanda e com o cenário internacional turbulento, você pode jogar a economia no chão. O desafio do Brasil é diminuir um pouco o ritmo de crescimento da economia, porém manter acelerado o ritmo de investimentos. É isso que vai garantir a sustentabilidade no futuro.” Nesse ponto espera-se que os investimentos do governo através do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e as monumentais obras que deverão ser construídas para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, efetivamente produzam condições para a manutenção de um bom ritmo de crescimento, previsivelmente inferior ao PIB 2010, mas melhor do que o resultado de outros países desenvolvidos. De qualquer maneira, conservadoramente, o próprio governo já trabalha com um PIB para 2011 na média em 5%, crescimento esse aceitável diante das enormes demandas ainda existentes na sociedade brasileira e do risco do retorno da inflação. Que no Carnaval de 2012, os números também dêem samba. João Melo A última edição da respeitada revista EXAME traduz com precisão o que esta acontecendo hoje na economia brasileira na reportagem especial sobre ALEXANDRE TOMBINI, presidente do BANCO CENTRAL DO BRASIL.
Resumo: As projecões do IPCA para 2011 indicam que o mercado desconfia da disposicão da atual diretoria do Banco Central de trazer a inflação para o centro da meta ainda neste ano. Então nós temos: uma economia aquecida no embalo dos gastos do governo transformou o mercado de trabalho e está aumentando a inflação num momento em que o mercado questiona o BC. Para quem recorda-se dos tempos de inflação na década de 80, jamais admitirá que o governo baixe a guarda no combate ao dragão inflacionário. Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e criador do sistema de metas de inflação, comenta: “SE a inflação se acomodar em 6% por algum tempo, estaremos perto do limite em que TODOS correm para indexar os preços.” Acorda Dr. Tombini!!! João Melo Com a posse da presidente DILMA ROUSSEFF o Brasil desfruta de um início de ano e de governo, um pouco diferente de outras épocas. Apesar de a população brasileira entender que o ano somente começa após o Carnaval – que neste ano será dias 07 e 08/03/2011, a roda da vida vai rodando e nestes quase dois meses de governo, a mudança é positiva.
Enquanto grande parte dos países ainda recupera-se da brutal crise de 2008 e, nos dias de hoje, o mundo árabe esteja passando por uma revolução através das tradicionais e conhecidas redes sociais existentes no Ocidente, o Brasil aguarda um resultado de seu PIB para 2010 na ordem de 8% e para 2011 espera-se um número próximo a 5%. No entanto, nem tudo são flores. Após 17 anos que o Plano Real venceu o dragão da inflação, o mesmo volta sorrateiramente a exalar enxofre pelas suas grandes narinas e, por incrível que pareça, essa ameaça a meta de inflação estipulada pelo Banco Central em 4,5% com uma margem de 2,5% para mais ou para menos, é de certa maneira aceita por determinados acadêmicos e membros do próprio governo. Agrava-se essa situação uma vez que a inflação causa prejuízo maior as classes de menor renda do que as de maior poder aquisitivo. Um bom teste para a força política de Dilma Rousseff no Legislativo foi a aprovação do salário mínimo em R$ 545,00, o que sempre é um fator de preocupação devido o aumento em cascata que acarreta, mas que teria causado maior prejuízo se o valor aprovado fosse os R$ 600,00 defendidos pela oposição e até por alguns aliados do Palácio do Planalto. Outra tensão está no valor da taxa de câmbio, atualmente cotada em média por R$ 1,6750 por US$ 1.00. Recentemente o Banco Central divulgou que o déficit em transações correntes ficou em US$ 5,4 bilhões, US$ 2 bilhões mais negativo do que dezembro, um claro sinal da deterioração das contas externas. Com isso, o déficit acumulado em 12 meses fechou em US$ 49,1 bilhões, valor abaixo em relação ao número de dezembro de US$ -47,5 bilhões. Como porcentagem do PIB, o déficit em transações correntes também voltou a aumentar, passando de 2,28% para 2,35%, mas ainda abaixo do registrado em novembro de 2010, que foi de 2,41%. Por outro lado, pelo 24º mês consecutivo, houve superávit no balanço de pagamentos: em janeiro, foi de US$ 8,5 bilhões, o mais alto desde outubro do ano passado, US$ 8,8 bilhões, quando o processo de capitalização da Petrobrás atraiu muitos recursos estrangeiros. Essa contabilização é bastante criticada por vários economistas, uma vez que suspeita tratar-se de uma artificial manobra contábil. Apesar de o Brasil continuar a ser um mercado promissor para investimentos, com o valor de US$ 15,3 bilhões ingressado em dezembro, estranhamente apenas US$ 2,9 bilhões ingressaram em investimentos diretos no país durante o mes de janeiro. Portanto, é o momento de reavaliar todas as situações possíveis visando antecipar eventuais sérios problemas econômicos para o Brasil. João Melo A população brasileira que hoje esta na faixa dos seus 16 anos desconhece o que seja a inflação. O Brasil registrou entre 1980 a junho de 1994, quando foi lançado o Plano Real, uma inflação acumulada de 10,5 trilhões por cento. Esse terrível dragão foi finalmente domado pelo Plano Real, o poder de compra dos brasileiros aumentou e os presidentes Fernando Henrique e Lula da Silva conseguiram governar de uma maneira que favoreceu as classes sociais de baixa renda.
Com o mundo convivendo ainda com os estragos causados pela crise econômica de 2008, registra-se no Brasil um sinal que a inflação pode voltar. Esse perigo latente não deve, sob hipótese alguma, ser desconsiderado pelo atual governo. Durante estes últimos 16 anos o povo brasileiro aprendeu a viver num país onde o preço de um bem hoje é o mesmo de amanhã e foi o mesmo de ontem. Aceitar a volta da inflação somente trará prejuízos a todos, mas em época eleitoral a tolerância do governo com o assunto, resulta em sinal amarelo hoje para o novo governo. O Brasil, que tem uma meta oficial de inflação de 4,5% ao ano, brilhantemente defendida pelo Banco Central, acumula uma alta de 6% nos doze meses encerrados em janeiro/2011. O país vem crescendo a uma taxa anual de quase 8%, o que vem resultando num aumento mais forte da demanda, que a oferta não consegue atender, o que acarreta o aumento de preços de diversos produtos. Para combater essa situação, além dos últimos aumentos na taxa básica de juros – hoje em 11,25% ao ano, uma das mais elevadas do mundo, recentemente o governo cortou no próprio orçamento algo em torno de R$ 50 bilhões, um número mágico que até o momento ninguém consegue detectar onde e quais despesas efetivamente sofrerão os cortes. A boa notícia é que, conforme Olivier Blanchard, quando os efeitos sobre as expectativas são levados em conta, uma redução dos gastos do governo não leva necessariamente a uma queda do produto. Quando analisamos o comportamento das curvas IS e LM nessa situação específica, fica bastante claro que os gastos do governo diminuindo, levam a um deslocamento da curva IS para a esquerda. Porém, se o governo consegue reduzir a taxa de juros, a curva IS desloca-se para a direita e a essa taxa de juros em queda estimula os gastos e aumenta o produto. Isso posto, mais do que nunca compete ao governo saber onde deve cortar, sem prejuízo às suas funções básicas de assegurar melhores benefícios para a população e sem esquecer da estratosférica carga tributária cobrada da sociedade. Fazendo a sua parte e deixando o mercado trabalhar, o governo atingirá seus objetivos, ou seja, não deixar o dragão inflacionário voltar a dominar este país, bem como, conseguir manter a taxa de juros num patamar que atenda ao consumo consciente da população. Como comentou nesta semana Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central do Brasil, “Não podemos tolerar que a inflação fuja do controle num país como o Brasil, que ainda trem resquícios de indexação. Quanto menor a inflação, menor o custo para mantê-la em patamar baixo, porque todos os agentes econômicos trabalham com a perspectiva de que ela vai se manter assim e resistem à tentação de reajustar seus preços”. João Melo Atualmente em cartaz no Brasil, com um público já próximo de quase 10 milhões de pessoas, o filme Tropa de Elite 2 já é o mais visto do ano e o segundo filme de maior público na história brasileira. E o que tem a ver o tenente-coronel Roberto Nascimento (mais uma vez um extraordinário desempenho do ator Wagner Moura), com o PIB – Produto Interno Bruto e o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil?
Tudo. No filme desenha-se um dos principais problemas brasileiros: a corrupção. Afinal, em recente estudo o Brasil ocupa o 69º lugar no ranking dos 178 países menos corruptos, empatado com a envelhecida Cuba dos irmãos Castro. O tenente-coronel Nascimento combate com firmeza e coragem a corrupção que existe no país, interligando polícia e políticos numa conexão que somente causa prejuízos ao Brasil. Não é toa que em vários locais nos quais o filme é exibido, o público ovaciona quando Nascimento espanca um político corrupto. Com tantos problemas econômicos que perduram no Brasil – juros altos, real valorizado, contas públicas deficitárias, necessidade de manter a inflação sob controle, dentre outros - e que se não enfrentados trarão graves problemas ao governo da nova presidente Dilma Rousseff, a corrupção é uma tragédia no cotidiano brasileiro, desde os menores problemas pessoais até a sua disseminação entre os altos poderes da república. Diante disso, valorizar a importância que atualmente o Brasil é a 8ª economia do mundo, ao lado da elite americana, chinesa, japonesa, indiana e alemã, é totalmente incoerente e infeliz quando é divulgada a lista de IDH de 169 países. O Brasil está lá na 73ª posição, muito distante de nações como a Noruega, Austrália Nova Zelândia, Estados Unidos, Irlanda e observando pelo retrovisor o Zimbábue, a República Democrática do Congo, o Níger, o Mali e a Burkina Faso. Em mundo ainda em crise, com as grandes economias enfrentando problemas internos e até externos como a “guerra cambial”, existe a necessidade que a própria sociedade brasileira reavalie afinal qual o país que deseja ser. Acabou a era de o Brasil ser o país do futuro. Esse futuro é agora. E nada será possível quando o Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 2010, da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura informa que a qualidade da educação no Brasil é baixa, principalmente no ensino básico. O índice de repetência no ensino fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica expressivamente acima da média mundial (2,9%). O alto índice de abandono nos primeiros anos de educação também alimenta a fragilidade do sistema educacional do Brasil, onde 13,8% dos brasileiros largam os estudos já no primeiro ano no ensino básico. A própria UNESCO avalia que o Brasil poderia se encontrar em uma situação melhor se não fosse a baixa qualidade do seu ensino. Enquanto a explosiva mistura de corrupção e falta de educação estiver distribuída por toda a sociedade e sem um forte combate por parte de um verdadeiro e real tenente-coronel Nascimento, macroeconomicamente podemos ser até uma potência mundial, com acesso ao G-20 e até com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – Organizações das Nações Unidas, mas seremos eternamente um país que não leva ao seu povo a qualidade de vida que existe nos países de 1º mundo. João Melo. |